terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Pós-carnaval

O processo de criação se deu no confinamento de um quarto de hotel em plena alta temporada de caça níqueis de Salvador.

Os olhos do Brasil inteiro se voltam para Salvador.

Turistas em busca de festa, de fé, de gente, de magia, de alegria.
Repórteres e afins frenéticos tentando registrar tudo o que se passa. A cada lugar que você vá, dezenas de flashes.
Não bastasse os repórteres - que ganham sua vida assim - agora existem os colunistas sociais amadores: os usuários de orkut.
Em qualquer evento seja familiar ou não vocÊ está exposto aos flashes e amanhã sua cara de cu pode estar estampada num desses albunzinhos de orkut. E você nem viu a foto. E vocÊ nem sabe que tiraram a foto. E logo estarão comentando a foto.

Nesses casos fortuitos, quase sempre você está péssimo na foto. Ninguém bota uma foto sua linda sem comentar. Mas suas fotos com cara de demônio da tasmânia estão lá.

A super exposição da imagem das pessoas bota nossos amigos nerds, hackers, crackers e afins para trabalhar em prol do resquício de privacidade que nos resta.

A nova interface do orkut foi um fenômeno que afetou a vida de muitas pessoas.

No começo era divertido "Meu orkut não sabe contar" e etc.

Hoje, os trolls e fakes dominam comunidades, dando trabalho para donos e moderadores.

Fãs e admiradores obsecados têm na internet uma ferramenta de obsessão ao alcance dos dedos.

Numa lan house - sem lenço nem documento - qualquer operação ilegal pode ser efetuada.

Salve-se quem puder.

Muitas vezes a própria polícia não quer ajudar, e nem está preparada para lidar com tamanha violência.

A caixa de pandora do mundo se abriu.

O inconsciente coletivo está surtado.

Aqueles que conseguiram constuir alguma coisa até aqui que sorte tiveram.

Pois nós, os novos retirantes, estamos em trânsito em um mundo em transe.

Esse blog é a tentativa de achar soluções no meio desse caos.

aos novos retirantes

Há quase um mês atrás nascia a idéia de três blogs. Dois dos quais já são públicos.

Os retirantes conhecidos foram aqueles nordestinos que desciam para o sul em busca de opotunidades.
O preconceito colou. Baiano, nordestino na boca de paulista era xingamento.

Hoje a coisa mudou.

Está todo mundo subindo. Em busca do seu lugar ao sol.

Eu estava com planos de vir para Salvador há cerca de 2 anos. Por motivos psicológicos, emocionais, privativos e dolosos não consegui vir antes.

E eis que quando chego percebo que vim desolcando-me junto a uma grande massa de pessoas que vieram por vários motivos: transferidos para empresas ( o nordeste está crescendo), em busca de oportunidades de trabalho, em busca do sol, em busca do mar, em busca de fé.

Durante esses 3 meses eu precisei me justificar o tempo todo sobre o porquê de ter vindo a Salvador.

Dei inúmeras explicações, vários motivos, várias motivações.

Eu vim por amor. Por amor a Salvador, pelo imaginário da Bahia de Caetano, Gil, Bethânia, Gal, Pepeu Gomes, Torquato Neto, Tom Zé, Dorival Caymmi.

Eu vim pelo conto de areia de Clara Nunes.

Eu vim pelo batuque do atabaque.

Eu vim pelo ilê aiê.

Eu vim por Daniela Mercury.

Eu vim pelo movimento axé music, Carla Perez e Cumpadre Washington.

Eu vim pelo Psirico.

Eu vim pelo Arrocha.

Eu vim por ter conhecido pessoas interessantíssimas que são daqui ou passaram por aqui.

Eu vim porque não pude ser forte o bastante pra recusar esse convite invisível.

Eu vim porque os problemas que tive nesta terra não foram o bastante pra me separar dela.

Eu vim pela força dos orixás.

Eu vim pelo gosto, pelo cheiro.

Eu vim pela dor, pelo sofrimento desse povo. Que sofreu e sofre tanto quanto eu.

Eu vim pela raça negra, pela força que sempre esteve em mim.

Eu vim.

Aqui estou.

E quem quiser migrar aqui pra cima vai ter a minha ajuda pra não passar o inferno que eu passei nessa cidade que tanto me ama e que minha alma invade.